segunda-feira, 24 de junho de 2013

Livro: Morte Súbita

Se você estiver pensando em comprar e/ou ler este livro apenas por causa do nome de sua autora, PARE E LEIA ESTE POST

Tentarei fazê-lo com o mínimo possível de spoilers e ao mesmo tempo alertar aos desavisados sobre o que realmente esperar deste livro!

ESQUEÇA os adolescentes bem comportados, os professores sábios, os pais carinhosos e compreensivos. Esqueça as atitudes nobres, esqueça as amizades inabaláveis. Esqueça as aventuras deliciosas, esqueça as risadas contagiantes e até mesmo os vilões minimamente respeitáveis.
ESQUEÇA "o bem sempre vence o mal" e esqueça a ideia de "final feliz".

Pegue o ódio, o orgulho, o rancor, a vaidade, a frustração, a arrogância, a estupidez, a rivalidade, o preconceito e principalmente a mesquinharia de personagens como os Dursley, os Malfoy, Dolores Umbridge, Snape (sem hipocrisia), Quirrel, os Crouch,  Bellatrix & Cia e multiplique por 1.000 vezes no mundo real e você terá uma vaga ideia do que trata Morte Súbita.


Aliás, a palavra que melhor define o enredo de Morte Súbita é MESQUINHARIA.

Eu aposto que você não irá gostar de NINGUÉM. No máximo, como eu, vai sentir alguma compaixão por um ou outro.

Morte Súbita não é Harry Potter e nem passa perto.
E não se engane: a definição "romance adulto" NÃO significa romantismo, amor, casal, shipper fofo, alegria, felicidade!
Morte Súbita é a realidade nua e crua e, ao mesmo tempo, seu final ironiza isso no que se refere ao personagem Bola, sempre com o narigão tão empinado se achando o expert da humanidade sem nunca ter saído do conforto de uma vida bem estruturada e razoavelmente segura, apesar do transtornado pai e de sua origem (só lendo para entender perfeitamente o que quero dizer).
Essa atitude aliás, é típica de "valentões" e "espertalhões" de escola como ele.

Morte Súbita expõe o que há de pior no ser humano, em todos os seus personagens (menos o falecido) e mostra que TODO mundo tem alguma coisa que quer varrer para debaixo do tapete.
Quando Barry morre (isso não é spoiler) toda a vida pacata, simples e segura do vilarejo de Pagford desmorona. Sua morte abre espaço para seus inimigos que se julgam sempre superiores e inatingíveis, até o dia em que eles próprios viram alvo de sua língua ferina e de seus defeitos comportamentais.


Pagford e a cidade de Yarvil são um microcosmo que reflete o mundo e a humanidade.
A vida insonsa da maioria das pessoas (que geralmente se acham muito importantes), os vícios expostos e os secretos, os segredos familiares e aqueles tão secretos que nem a família conhece, os ressentimentos guardados por muito tempo que um dia explodem, a hipocrisia, os conflitos pessoais, as amizades antigas abaladas, pais incapazes de aceitar os filhos como são e até mesmo incapazes de fingir que aceitam, etc. E sendo decidido por essas pessoas - que podem parecer tão inadequadas para isso - o futuro de toda uma comunidade frágil e extremamente necessitada de ajuda e intervenção urgente, sendo representada aqui pela complexada família Weedon.
Tanto se trata de um microcosmo do mundo que entre a cidade de Yarvil e o vilarejo de Pagford existe uma espécie de "faixa de gaza": o bairro Fields. Um bairro feio e decadente com população que vive predominantemente de assistencialismo ou vive com renda baixa que os mantém na pobreza.

Não se iluda. O livro não trás aquela narrativa empolgante e palpitante. Seu objetivo é a crítica social através do registro do cotidiano da vida de cada uma das famílias principais. Mas sempre revelando aquilo que os próprios personagens desejariam que não fosse descrito, rs. Desde seus pensamentos e sentimentos sórdidos aos seus atos com segundas intenções, mesmo quando parecem boas ações aos olhos dos outros.

O livro trás muitos palavrões. Trata de sexo sem romantismo nenhum, de pedofilia e estupro, de violência familiar, de drogas, bullying, auto-mutilação, depressão, mercadorias roubadas, alcoolismo, TOC e muita, mas MUITA politicagem.

Alguns personagens assim - que eu citei lá no começo - já tinham sido criados e um pouco desenvolvidos em Harry Potter. Mas aqui JK se aprofunda muito mais nisso, já que é este o foco central.
Reparei que outras pessoas também reconheceram como eu os Dursley na personalidade dos Mollison. (incluindo a gordura)

Algumas pessoas - que leram Morte Súbita com as expectativas erradas, só porque é um livro da Jo e boa parcela destas pessoas são adolescentes acostumadas a romances melados - chegaram a dizer que "não parece um livro da JK". De novo: quem diz isso esperava algo mágico!
Mas dá pra identificar, SIM, nitidamente a assinatura da JK nas descrições e nos diálogos.
Seu talento para descrever e desenvolver relações interpessoais (exceto romance romântico, melado, água com açúcar) não só está intacto, como está mais afiado do que nunca e inegável.

Eu classifiquei nas tags esse livro como NC-17 não por hipocrisia.
Apesar de ter muito palavrão e tudo o mais que já citei e de EU achar isso inadequado para menores, eu SEI que hoje em dia crianças de 12 anos leem e vêem coisas muito piores.
Eu classifiquei como NC-17 pelo simples fato que está bem claro que a grande maioria dos adolescentes não vai gostar e nem entender o propósito do livro, achando-o (como já me disseram) "arrastado".
O público-alvo deste livro é BEM diferente do público-alvo de Harry Potter. O que não significa, porém, que quem gostou de HP (como eu) não vá gostar de The Casual Vacancy. Isso vai depender da sua idade, da sua maturidade e do seu gosto literário. Se gostar de histórias com os dois pés bem firmes no chão, então vai lhe agradar.

O livro tem um fim que não é um fim.
Alguns personagens terminam com sua vida indefinida o que achei que faz todo sentido: afinal é um livro sobre a vida real e nossa vida só termina DE FATO quando morremos.

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