sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

ABF: Inverno das Fadas

Eu pretendia começar 2013 lendo o legendarium de Tolkien, seguindo o cronograma que tinha estabelecido para 2012 e não consegui concluir. Mas resolvi antes ler este livro da autora Carolina Munhóz para continuar este meu projeto de Autores Brasileiros de Fantasia e Ficção (ABF).

Este livro - sua capa - me chamou atenção primeiramente quando fui a São Paulo. Sempre que desço na Rodoviária Tietê dou uma parada na Super News (acho que é esse o nome) que foi, aliás, em situação semelhante que vi pela primeira vez Eragon em uma bela edição.
Então, lá estava a capa de Inverno das Fadas que me chamou a atenção e me agradou especialmente quando vi que a autora era brasileira. Lá foi mais um livro pra minha longa lista.

Aí um dia desses vi justamente Carolina Munhóz no programa Encontro da Globo de manhã, totalmente por acaso já que raramente vejo TV neste horário. O tema aliás era bullying, tema que me interessa muito e provavelmente foi por isso que parei pra assistir aquele dia. Aí então eu decidi que leria o mais breve possível.

Tenho muita curiosidade de ler os livros desta nova geração de autores de Fantasia brasileiros, já que o gênero de fantasia nunca foi forte entre autores nacionais e eu mesma fiz parte, por muitos anos, de uma comunidade de pessoas que pretendiam escrever Fantasia nacional.

Ganhei então o livro de Natal - sim, eu escolhi, não foi coincidência - e ao pegá-lo para ler esta semana tive uma agradável surpresa ao ler a orelha do livro. Descobri que ela também pertence à geração mais antiga de fãs de Harry Potter e, ainda por cima, é da equipe do Potterish. No passado eu não frequentava o Ish e nunca tive muita amizade com o pessoal de lá - nem sequer sei o nome dos editores -, mas passei a frequentar de uns 2 anos para cá. Portanto, foi diferente do que aconteceu com Cassandra Clare cujo nome eu reconheci, embora não recordasse de onde (e demorou pra cair a ficha. Pra quem não sabe: Draco Dormiens), quando vi seu livro numa vitrine. 

E aí, comecei a ler o livro.
Sabe quando você tem vontade de tacar o livro na parede de raiva? Então...


A primeira coisa a me chamar a atenção é que o texto inicial tem aquela fluidez natural no que te faz ler sem perceber as páginas passando e quando menos esperar já terminou o primeiro capítulo, seja ele longo ou curto. Você não percebe o tempo passar e quando vai olhar em que página está se surpreende com o número.
Logo, ainda no início tive o pressentimento de que Carolina saberia conduzir a história de forma agradável, interessante e prazerosa. Porém, conforme as primeiras 100 páginas vão se desenrolando incômodos vão aparecendo pelo caminho e começa a surgir aquela impressão de texto escrito não para um livro, mas para uma fanfic mediana de internet. E tem se tornado tão comum ultimamente ver esse tipo de coisa que criei aqui no blog um novo marcador: fanfic-livro.

Não demorou, já nas primeiras 50 páginas vi que o livro não era exatamente o que eu esperava. Não é um livro tão grandioso quando a sinopse havia me sugerido.
Uma das coisas que me atraiu para esse livro, quando li a sinopse, foi que venho procurando há tempos um tipo diferente de Fantasia. Uma que não siga a Jornada do Herói e nem seja baseada em batalhas, guerras, universos medievais, missões e etc... Algo que fuja do padrão típico da literatura de Fantasia.
A ideia de uma fada que seduz artistas me pareceu perfeita. Só que logo no início do livro percebi que não era o que eu esperava, não corresponderia às minhas expectativas.
Bem, as sinopses raramente correspondem.
Me irrita que o gênero de Fantasia, necessariamente, tenha que se basear ou em estilo bélico ou em estilo romance-água-com-açúcar-mal-escrito.

Em algumas passagens, descrições ou diálogos identifiquei um certo tipo de linguajar que me deixa desconfortável. Não sei dizer se seria amadorístico, porém me parece no mínimo inexperiente. Lembra muito o jeito de escrever fanfic da maioria das autoras que me lembro de te lido. É como se fosse um  cacoete bem difícil de corrigir (eu sei porque também sofro do mesmo). Não sei explicar como identificá-lo; é quase como um estilo desenvolvido em anos de fandom, mas ao mesmo tempo imaturo, rústico e quase um jeito inocente de escrever, sem aperfeiçoamento. Eu não sou boa para expressar bem esse tipo de coisa, por isso vou por um trechinho para exemplificar o que quero dizer:
"- Ora, ora! - caçoou o féerico ao se aproximar. - Quem diria que a neta do governador estaria passeando por aí em plena organização de Samhain. 
Abrindo um sorriso sarcástico, Sophia respondeu: 
- Pelo visto você está acompanhando meu passeio, pois em pleno dia sagrado deixou sua prima cuidando de tudo, não é, bonitão? 
Os dois acabaram gargalhando tão alto que alguns alados repararam no casal ao passar. Sophia pulou em seu colo abraçando-o com força, parecendo uma menina de 5 anos de idade, feliz ao ganhar um presente. As pernas se encontravam entrelaçadas na cintura do rapaz. 
- Caramba! Como é bom ver você, menina! - comentou alegre, com a fada ainda pendurada em seu corpo. - Encantando e destruindo algum pobre garoto como sempre? 
- Idiota! - disse Sophia, fingindo estar brava, saindo do abraço e voltando ao chão. - É bom te ver também. Mas para seu conhecimento, quem leva a alma do garoto embora é a Deus, não eu. E não tenho culpa de ser irresistível." (página 23)
O início tem momentos de um texto fascinante e depois vai involuindo rapidamente para um texto simplório digno de uma fanfic que vai piorando muito no desenrolar da história.

Não gostei do fato da história se passar na Inglaterra, não porque a suposta 'vítima' da fada seja de lá, mas porque mesmo no Outro Mundo os personagens tem nomes em inglês e, sinceramente, o sobrenome de Sophia não podia ser uma junção de palavras mais clichê e sem graça: Coldheart.

E porque raios os títulos dos capítulos vêm em inglês?
A tradução do título logo abaixo, com a mesma fonte, porém em tamanho menor, dá a impressão de ser um livro estrangeiro traduzido... Só que não! Foi todo escrito em português, por uma autora brasileira! Então... qual o sentido disso?
Não vou ser hipócrita e dizer que temos que 'ter orgulho de ser brasileiro' e blá blá blá... é um país corrupto e enfim, não vou entrar em questões políticas... Nascer aqui ou em qualquer outro lugar é apenas acidente de percurso.
A questão é que temos que escrever mais coisas que sejam próximas à nossa realidade, à nossa cultura... ao que conhecemos profundamente simplesmente por estar em nosso dia-a-dia.
J.K. Rowling não escreveu sobre uma Escola de Magia situada em Portugal, mesmo tendo vivido e lecionado lá. Ela escreveu sobre uma Escola de Magia situada na Grã-Bretanha simplesmente porque é natural situar sua história no local ao qual você mesmo pertence!!! Até porque seu primeiro público, de imediato, é do seu país de origem.

Por mais que a autora seja conhecedora da cultura inglesa, já tenha viajado para aquele país e etc... seus leitores, não.  Quer dizer, sim... estamos todos habituados à Fantasia inglesa que é a mais tradicional. Só que quando se pega um livro de Fantasia escrito em português por um(a) autor(a) brasileiro(a) espera-se uma identificação maior com a nacionalidade deste autor(a). A expectativa se baseia em boa parte nisso!

Por exemplo, a festa de Natal retratada. Eu adoro saber como é essa festa em outros países, mas por que não retratar o nosso jeito de comemorar?
Aqui nós começamos a festa na noite do dia 24 e não só no dia seguinte. Abrimos os presentes à meia-noite e não ao acordarmos na outra manhã.
Para nós o Natal é uma mistura de festa gala e festa familiar.
Por que não falar dos banquetes regados à uma mistura de comida européia e ingredientes tropicais? Do calor que permite às mulheres colocar finos vestidos e / ou blusas mais abertas?
Por que falar de repolho roxo e Couve-de-Bruxelas, quando aqui além da variedade de carnes e temperos,  temos as frutas mais doces do mundo? Minha mãe e minhas tias costumavam deixar sempre uma mesa de frutas cortadas artisticamente, coloridas e muito bem decoradas.
Por que não falar que, além das frutas tropicais coloridas e perfumadas, cujo cheiro preenche a casa toda, também amamos o Panetone, cuja receita tradicional vem da Itália? Sem contar as receitas secretas dos doces de família, como as rosquinhas de pinga e amanteigados da minha tia e os meus biscoitos de chocolate e aveia. E as Castanhas de Caju, deliciosas para serem consumidas como aperitivo antes da ceia com uma suave pitada de sal.
O CD tradicional de músicas natalinas do mundo todo tocando ao fundo, os pisca-piscas iluminando a casa e as ruas. Nossas brincadeiras de amigo secreto, que hoje eu já nem aprecio tanto, mas amava na infância.
E depois da meia-noite a criançada ia toda junta pro quarto pra bater papo, desfrutar os presentes e desafiar uns aos outros quem conseguiria virar a noite acordado... e acabava todo mundo desmaiando onde estivesse!!!

Nossa festa de Natal é tão bela, deliciosa, tradicional e cativante quanto a de qualquer outro país.
Por que temos que retratar os costumes ingleses? Já existem muitos, mas muitos mesmo, autores ingleses retratando o próprio país!
Mas aí, pra não dizer que não incluiu o Brasil na história ela põe a maldita da fada chegando com um gorro de Papai Noel e justificando que é porque a mãe dela seria brasileira. O_o Não existem palavrões suficientes para expressar o que senti ao ler isso.

Os rituais célticos / anglo-saxões / estilo Wicca nunca me agradaram e continuam não me agradando. Esse tipo de magia ritualística não faz meu gênero; não me convence nem me cativa. Não tenho nada contra, apenas não gosto muito (e, aliás, um dos grandes motivos de eu ter me apaixonado por Harry Potter é que não há esse tipo de magia ritual). Então, isso também me impede de apreciar o livro plenamente (o que também aconteceu com Dragões de Éter).

Quando li a sinopse esperava uma fada que realmente, literalmente, fosse uma musa. Muito mais forte, manipuladora e segura de si. O tipo de personagem que mesmo que se apaixonasse e se metesse em encrenca, manteria sua altivez e orgulho, saberia se manter superior em qualquer situação. Enfim... uma verdadeira femme fatale (ainda mais sendo ela de uma família real).
No entanto o que temos em Sophia é uma adolescente (uma adolescente com algumas centenas de anos... mas até o Nino, do Castelo Rá-Tim-Bum - que é uma criança bruxa de 300 anos - é mais maduro que Sophia). As descrições do que ela é e do que ela já fez no passado não condizem com suas atitudes e não é só porque sua relação com William seja atípica para ela. O buraco é bem mais embaixo.
Talvez, novamente, isso seja fruto da inexperiência (literária) da autora... mas isso é uma divagação minha que não posso afirmar categoricamente. É só uma hipótese.

O fato é que por vezes, só nas primeiras 70 páginas, é dito que Sophia tem um longo passado inspirando músicos e escritores. Que já seduziu diversos, acompanhando-os por toda a vida, alguns desde a infância. Isso dá a entender que ela tenha algumas centenas de anos pelo menos.
Mas ao mesmo tempo, a autora se refere a ela quase o tempo todo como "garota" ou "menina" (e o mesmo com William que já tem mais de 20 anos), não apenas pela aparência. Ela age como uma mera adolescente tímida e assustada (e perto do avô é praticamente uma criança apesar de discutir assuntos sexuais com ele) quando deveria ser uma experiente femme fatale (independente da aparência física que tenha). Essa conta simplesmente não bate!

Acho até louvável que a garota tenha sentimentos contraditórios em relação à sua natureza cruel e tenha até medo de ser uma espécie de sangue-suga. Só que as descrições dela são bem contraditórias, não apenas por causa da situação peculiar com William... mas em relação a toda a sua vida e sua natureza.
Eu não consigo visualizá-la jamais 'dominando' a relação com algum homem, seja ele fraco ou não.

A propósito, Sophia para mim não tem nada de fada. Ela é sim, como ela própria e o padre dizem, um tipo de vampira. Eu sempre achei que a verdadeira essência de um vampiro não estaria em beber sangue, mas em sugar a força vital alheia, como a Vampira dos X-Men (já que a autora gosta tanto de usar referências de outras obras).
No caso de Sophia ela é uma vampira muito mais cruel, pois não apenas suga a energia alheia, como o faz através de um falso sentimento de amor. E como não sou fã de histórias de vampiros, ter sido enganada para ler uma história dessas, achando que era uma fada, me irrita. Mais uma maldita história de vampiros açucarada, com os conceitos de amor, vida e morte completamente distorcidos!!!
Mas... já que estamos aqui, assim como quando li Crepúsculo, me vem à mente a frase célebre de Firenze ainda em Pedra Filosofal, que é mais ou menos assim: "Quem tira a vida de uma criatura tão pura só terá uma semi-vida, uma vida amaldiçoada". (desculpem não lembrar com exatidão)
Na boa, sem essa de instinto de sobrevivência... quem em sã consciência iria querer viver assim? Eu já teria me matado há muito tempo!!! A não ser é claro que fosse uma vilã. Contudo, Sophia é retratada como a mocinha, a donzela da história.
E o melhor é que os artistas em questão nem sequer tem o direito de decidir se querem ou não vender sua alma ao Diabo em troca de sucesso. E isso me lembra do uso completamente inapropriado e corrompido da palavra "Deusa".

O Capítulo 7 é peculiar, de forma negativa.
Primeiro o capítulo se chama "Someone like you". Se proposital ou não, não sei dizer, mas imediatamente me veio à mente a música de Adele que tem o mesmo nome é uma das minhas favoritas.
Para meu espanto o livro usar um recurso bem típico de fanfics (e de fanfics). Algumas fanfics - as de apenas 1 ou poucos capítulos - eram inteiramente assim e se chamavam song fics. Outras fics longas, como no caso deste livro, usavam este recurso apenas em um ou outro capítulo.
É colocar, em itálico e/ou em fonte diferente, trechos de uma música que o autor acha que combina com a cena e deve ser associada a ela. Isso estimula o leitor a querer procurar a música e ouvi-la enquanto lê o capítulo ou cena em questão.
Eu NUNCA tinha visto isso ser usado em um LIVRO físico, vendido por livrarias e editado por editoras comerciais. Não sei como a questão de Direitos Autorais da música foi resolvi para se permitir isso.
Não, a música em questão não é 'Someone like you', apesar do título do capítulo.
É uma música que eu não conheço e fiquei com tanta raiva do capítulo que nem sequer tive o ímpeto de procurar conhecê-la.

O que primeiro me irritou é que - pelo menos na época que eu frequentava esse universo de fandom e fanfics - mesmo sendo uma obra feita de fã para fã, sem fins comerciais, as autoras tinham o respeito pelo leitor de por a letra traduzida quando era em outra língua (geralmente o inglês). A maioria fazia, como eu, colocando a letra original e a tradução logo embaixo entre parenteses já que o idioma da história é português, não inglês.
No caso de Inverno das Fadas as traduções estão na última página do livro, fato que eu descobri por acaso, pois no capítulo não há sequer uma indicação de onde encontrar a tradução da letra.
Acabei desistindo e pulando a letra da música.

A 2ª coisa a me irritar profundamente neste capítulo ao ponto de quase desistir de vez do livro todo foi a sua inegável qualidade duvidosa até mesmo para uma fanfic. A cena entre Sophia e Louise parecia aquelas fics bem toscas em que Draco Malfoy começava a namorar Ginny Weasley - ou Hermione Granger - e Pansy Parkinson começava a fazer cena, ter chiliques e enfim... (também vale pra outros personagens, como Levander Brown dando em cima do Ron ou até Harry com ciúmes da Ginny com o Malfoy em fics) e, claro, que a cena acontecia durante uma dança lenta em uma festa / baile (sim, estou revirando os olhos neste momento!). Uma ceninha de pseudo-poder-feminino típico de uma fic sobre aposta baseada mais em filmes americanos de besteirol adolescente do que no livro de onde os personagens saíram.
Para ilustrar como minha indignação é legítima, aqui está um trecho desta cena que, pra mim, é ridícula demais para estar em um livro vendido em livrarias:

"Vendo que os dois os observavam, para provocar, Sophia começou a beijar levemente o pescoço de William e foi subindo na direção da boca macia. Ela a invadiu com sede e vontade. A dança agora não era somente entre corpos, mas também entre as línguas que se exploravam, Os olhos dela, que haviam se fechado, agora abriram para encarar a garota os observando. Louise possuía raiva no olhar. Sophia, vendo a cena, devolveu a intensidade, olhando de forma superior e sarcástica. Havia demarcado seu território. William era dela. De mais ninguém. 
(...) 
Ela sentiu o olhar de Louise na nuca, mas aquilo não a incomodava mais. Aquilo aflorava profundamente a sua vontade de provar que podia mais. Que era melhor" (página 81)

MY EYES and MY BRAIN!!!
Gente, não tenho nem palavras pra expressar o quanto ISSO É RUIM DEMAAAAIIISSS!!!

Sem contar as expressões clichês, as palavras repetidas a exaustão, etc... Meu Deus, TUDO excita essa garota. T-U-D-O!!!
Outra coisa que sempre me irritou desde os tempos de leitura de fics é a mania de chamar o personagem por "o garoto", "a garota", "a morena", "a loira", "o ruivo"... a cada frase em que o personagem aparece a autora procura um novo adjetivo para citar o personagem. Qual a dificuldade de usar simplesmente ele / ela?

Eu juro, eu realmente queria ter só coisas boas a dizer sobre esse livro. A capa é linda, o título é bom, sugestivo, criativo; a sinopse atiça... E o fato de ser uma autora brasileira, da minha geração, grande fã de Harry Potter com quem me identifiquei quando vi dando entrevista me animou... MÃS... nada disso adianta sem conteúdo.
E só decidi terminá-lo porque já havia me comprometido a publicar sobre ele aqui no blog!
A última que fiquei com tanta raiva de um livro e tive que me forçar a lê-lo, foi 'Eurico, O Presbítero', quando eu ainda estava na escola e era para prova e trabalho. Foi tipo, há uns 10 anos.

Mesmo eu achando Crepúsculo horrível por causa da trama mal feita e da distorção das lendas indígenas americanas, nem Crepúsculo eu achei tão difícil de ler (pelo contrário, li rapidamente... em apenas 2 dias). Desconfio que a tradução melhorou, revisou e retirou os piores vícios de linguagem.
Inverno das Fadas acabou se revelando uma enorme decepção!

(inevitável pensar: imagina Felipe Neto fazendo um vídeo sobre esse livro...)

Vejam essa frase da página 109:
"- Muito obrigado pelo pão. Deve estar ótimo, afinal sua avó é uma cozinheira de mão cheia. Sabe fazer tudo muito bem. Nasceu para isso."
Agora veja como uma pessoa normalmente falaria:
"- Muito obrigado pelo pão. Deve estar ótimo, sua avó é uma cozinheira de mão cheia. Nasceu para isso."
O texto todo é assim. Cheio de coisas que podem ser facilmente cortadas. E a quantidade de palavras que estão ali só para encher linguiça se fossem cortadas diminuiriam o tamanho do livro pelo menos a metade. Por isso comecei a fazer uma coisa que eu detesto ao ler: pular palavras e até mesmo frases inteiras que logo percebo serem desnecessárias ali, afim de tornar a leitura menos.... "gggggrrrrr...."

E esta outra frase da mesma página:
"Não sabia sobre seus muito hobbies e nada de especial que pudesse ajudá-la na resposta."
Eu não sei se a intenção era dizer "Não sabia muito sobre seus hobbies" ou se era "Não sabia sobre seus muitos hobbies".

E aí eu pergunto: editora LeYa, cadê a revisão? Cadê a revisão, Raphael Dracon? (que é o Coordenador do selo Fantasy da editora segundo as informações dos créditos no próprio livro).

E ainda há outro problema: o exagero na citação de nomes de famosos, marcas e até programas de computador comuns. O excesso de referências pops deixa qualquer leitor enfastiado.
As referências a outras obras literárias e de cinema então... As de Harry Potter são toscas demais. Já as referências a Senhor dos Anéis e Star Wars chegam a ser desrespeitosas. Não sou tão inocente ao ponto de não saber que garotos são assim, fazem esse tipo de coisa... Mas a autora parece que não se decide se quer escrever um livro romântico açucarado para garotas histéricas ou um soft porn para imberbes adolescentes tarados. Ainda bem que ela não citou Éowyn nessa lambança, nem Faramir... ou eu REALMENTE TERIA TACADO O LIVRO NA PAREDE!!!

E como raios um rapaz que é 100% nerd, não pratica nenhum esporte ou atividade física pode ter "um corpo musculoso"??? Ter as costas largas, no sentido literal, até que tudo bem por uma questão de biotipo... mas daí a ter um sixpack (como diria Kevin Smith) sem praticar qualquer tipo de exercício, muito menos musculação, é simplesmente impossível!!!

Eu sei que estou sendo extremamente rabugenta e talvez seja porque logo de cara criei expectativas demais.
Contudo, é justamente por isso que faço questão de manter esse blog independente de vínculos com editoras e autores.
Se você procurar resenhas dele em outros blogs, os verá se derretendo em elogios em troca do apoio da editora ou algo do tipo. Em troca de receber livros de graça. Porém, procure no Skoob e verá que a maioria das resenhas de leitores independentes concordam com a minha opinião.
Eu não divulgo muito esse blog, nem entre amigos, nem no meu FB pessoal. Ao criá-lo, meu objetivo nunca foi torná-lo famoso ou ganhar algum prêmio TopBlog.
A lógica é simples: não vendo minha alma.
Entretanto, eu não reclamo nem das visitas, nem de receber comentários. Muito pelo contrário, quando eles são educados, eu fico muito honrada e feliz! Por isso me assustou que ultimamente tenha havido uma explosão de visitas aqui!
Nem sempre eu considero meus comentários sobre livros e filmes como uma resenha. É mais um desabafo (como neste caso). É como um diário sobre o que tenho lido e visto em geral... Afinal, não era este mesmo o objetivo inicial dos blogs quando surgiram, há mais de 10 anos? Ser um diário online?

Eu tenho ciência de que posso estar sendo dura demais. Mas poucas vezes foi tão difícil continuar a leitura até o fim por irritação.
Qualquer coisa me distrai. Minha gata, Pantera, passa o tempo todo comigo... e qualquer gracinha dela, provocação pra brincar ou até se ela estiver tomando banho de língua ou dormindo é suficiente para me distrair. Eu prefiro observá-la em sua inocência do que continuar a ler... não consigo me concentrar. E, normalmente, quando estou realmente interessada em um livro, me concentro de tal forma que praticamente nada me impede de continuar e ficar horas e horas a fio lendo até os olhos não aguentarem mais de cansaço.

Aliás, se quer saber o que realmente é inspirador é observar a natureza que tem seu esplendor nas coisas mais simples, os movimentos quase imperceptíveis, os detalhes mais minúsculos e como tudo isso forma um todo magnífico, esplêndido, gigantesco.
Isso - e não a luxúria - transforma os melhores artistas nos melhores de seu tempo!

E, enfim, finalmente, aleluia... nos encaminhamos para o final após dias e dias de tortura com as entranhas se revirando...

Eu falei anteriormente da menção excessiva de ícones pops atuais, sejam da música, do cinema, da literatura ou de qualquer outra área. Só que a autora faz uma outra coisa muito pior. Quando ela começa a citar aqueles que já foram vítimas da tal Leanan Sídhe. Aliás, quando ela só cita por alto ainda é tranquilo. O problemão começa quando conforme chegamos mais perto do fim ela decide contar cada um dos casos. Ela muda os nomes, mas simplesmente não tem a menor noção do significado de sutileza. Cada história é absurdamente óbvia. Independente do nome usado, fatalmente reconhecemos as heresias relacionadas às mortes de Britany Murphy, Heath Ledger e - a mais indignante - Michael Jackson. Só pra citar 3.
Felizmente ela não ousou citar o Ayrton Senna (e seria um prato cheio pra ela por ele ser mulherengo), porque se o tivesse feito a minha fúria teria me levado muito além de tacar o livro na parede e largá-lo de vez!!!
Interessante que o livro afirma que a inspiração de uma Leanan Sídhe faz com que a pessoa seja a melhor do seu tempo no que faz. E desde quando Britany Murphy foi uma atriz de destaque? Ela ficou mais conhecida pela forma como morreu do que pelos seus filmes, nos quais sempre fazia personagens adolescentes ou jovens bem estereotipadas  E foi por isso, inclusive, que ela se suicidou. Como era um tipo de atriz sem nada de especial, do tipo que brota aos montes em Hollywood todos os dias, ela não conseguia mais trabalhar no cinema.

A 'participação' de Paulo Coelho como personagem é bizarra demais para comentar. Ou melhor, a participação de "Magunus". Como se não bastasse ela praticamente dá a entender que ele fez um pacto com o Diabo para ser famoso. Não gosto dele. Não mesmo! Mas detesto mais ainda quem espalha esse tipo de boato sobre qualquer artista famoso, talentoso ou não... pois isso revela a parte mais nojenta e mesquinha do ser humano: a pura e maligna inveja! E não deixa de ser falso testemunho, calúnia e difamação.

Depois da metade, pra conseguir encerrar o livro, pular algumas palavras apenas já não era o bastante. Comecei a pular trechos inteiros e em algumas páginas lia apenas o diálogo. Só o suficiente pra entender os acontecimentos.

Em muitas resenhas publicadas no Skoob vi o pessoal dizendo que o final era plágio do filme A Origem. Bem, não é exatamente um plágio... Tem algumas coisas bem diferentes... mas, não há dúvida que a ideia só pode ter sido tirada do filme. E é um final tosco. Um final típico de um livro água-com-açúcar que pretende ser mais do que de fato é.

Só consigo dizer a favor deste livro que, até onde eu sei, graças a Deus Carolina Munhóz não resolveu transformá-lo em Trilogia ou Saga. Cruzes!!! Ainda bem...

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O próximo livro de um ABF que lerei provavelmente será Pelo Sangue e Pela Fé, do Cláudio Villa. Autor que conheço há alguns anos e tive um certo contato através de uma comunidade de Escritores de Fantasia. Sei que ele é maduro, culto e inteligente... então creio (espero) que com o livro dele não terei surpresas desagradáveis!
Mas se tiver... eu desisto deste projeto ABF aqui no blog... definitivamente!!!

Da editora LeYa eu já to quase desistindo também.
Martin, que eu acho insuportável é da LeYa.
Raphael Dracon que me decepcionou bastante com Dragões de Éter, idem...
E agora... Carolina Munhóz.
Será que sou eu que to tendo azar?

3 comentários:

NaiaraAmeba disse...

Bom saber que é péssimo! Na minha última visita a Saraiva eu tinha me encantado com a capa, mas estou avisada. Pra começar, acho interessante comentar uma coisa: Você escrever boas fan fictions não significa que escreverá bons livros e vice verso.
São dois universos tão diferentes que chega até ser complicado você querer juntar os dois. O grande ponto é que na fan fiction você já tem as personagens, ou pelo menos o universo, bem delineados. Você sabe aquilo que tem que trabalhar e, por mais que se adequar a realidade da personagem seja difícil, ainda é infinitamente mais fácil do que amarrar todas as arestas de uma história original.
Ao escrever uma obra, você não tem que simplesmente escrever bem, mas, acima de tudo, ter domínio do universo que você criou, o que não é fácil!
Comentando sobre alguns pontos que você comentou... A questão da ambientação de uma obra nacional ser feita em outro país não me incomoda de inteiro. Não que eu não concorde inteiramente com o que você comentou sobre a valorização da cultura nacional, da descrição de aspectos cotidianos nosso ter sua importância e merecer espaço na literatura. Concordo muito com isso e acho que falta, no brasil, quem explore nossa riqueza cultural dentro da literatura de modo realmente interessante. O ponto, eu acho, é você realmente querer fugir da realidade. Certas estórias, por diferentes motivos, não cabe na realidade brasileira, ou dos EUA, ou da Inglaterra, até mesmo por questões de enquadramento político, predominância de religiões, geografia... Enfim, não li o livro e não sei se a estória precisaria ser muito pouco adaptada para que isso ocorresse. Outro ponto é a questão do público, que realmente acha que o lá fora é mais legal e provavelmente não se encantaria com uma história narrada aqui. Triste, porém verdadeiro.
É fácil notar que você também detestou o conteúdo levemente erotizado do livro, mas eu estive refletindo sobre isso e sobre algo que você falou sobre observar a natureza, o que me fez a chegar a uma conclusão talvez um pouco estranha:
O ponto da musa, por mais que ela se alimente da energia sexual do parceiro, é que não é disso que a criatividade dele se alimenta. O copo é uma expressão da natureza e, mesmo sem nunca ter tocado, o que inspira o autor não é o sexo em sim, mas observar um corpo que, para ele, é a expressão máxima de perfeição de um ser humano. Ou melhor, não só um corpo, mas o corpo e o caráter.
Talvez se a autora tivesse se prendido um pouco mais a esse conceito, de observação, admiração ao belo e da diferença entre o alimento da inspiração e do alimento da musa, o livro tivesse causado uma melhor impressão em ti.
Ok, estou divagando!
Não gosto muito de livros que se utilizam muito de elementos da cultura recente porque acho que eles acabam ficando demasiadamente temporais. Ele faz sentido agora, mas em 5 anos já vai estar completamente ultrapassado e obsoleto para o público a quem se destina.
Outra coisa é o clichê! Eu amo clichês! Acho que o que faz um bom livro não é você pensar algo completamente novo, mas sim você transformar o óbvio em algo interessante de se ler!
Enfim, não vou mais olhar para esse livro com bons olhos! Provavelmente, nem vou mais olhar para ele! =D

Tina disse...

Ah, como eu amo quem tem coragem de fazer comentários gigantes como os que eu costumo fazer em blogs / posts alheios! rs... Geralmente sou repreendida por isso. Tipo "nossa, cansei de ler, não acabava nunca" e coisas do tipo.

Mais do que adorar comentários grandes, eu adoro os comentários inteligentes, pois adoro um bom debate sobre qualquer assunto minimamente relevante.

Essa questão do universo na verdade é o que me impede, ao menos por enquanto, de escrever um livro. Eu concordo plenamente com você!
Um autor é como um Deus para o universo que, olha só, criou. Então ele TEM a obrigação de conhecer cada canto, cada mínimo detalhe e não pode cair em contradição. O maior exemplo disso, na minha opinião é Tolkien: ele dedicou toda a sua vida à Terra-Média escrevendo e re-escrevendo. Pra maioria das pessoas comuns tentar ler as HoME é extremamente complicado, justamente pq há um mundo de teorias, versões, revisões e etc... dos mesmos acontecimentos, pq era tudo tão grandioso e minucioso que Tolkien não teve tempo em vida para dar um fim definitivo à sua obra de acordo com seu gosto perfeccionista.
Já no livro deste post... duas das contradições mais bobas e mais sem noção que encontrei: a fada tem asas e poderes mágicos, mas precisa 'escalar' um morro pra chegar ao topo. Hora ela sente frio e quase congela, hora ela sai na neve pra passear com William com um vestido de alça fina. A autora não se decide... mas, pior, NÃO REVISOU o texto final antes de mandar pra publicação. Um cuidado básico, mínimo que se espera.

Bom, sobre a cultura brasileira, apenas um nome: Monteiro Lobato. Até onde eu sei o único autor de Fantasia Brasileira (embora infantil) de fato reconhecido atemporalmente e que ambientou sua obra no Brasil, com aspectos culturais daqui.
Eu acho muito complicado pensar em mexer com as lendas indígenas, ou lendas africanas e as lendas criadas aqui que são uma mistura dessas duas outras + a européia. Acho-as sem graça (até por causa da interferência da religiosidade católica na maioria delas).
Mas aqui no Brasil muito se enfatiza que todos tem, em algum grau, descendência africana e indígena, mas se esquecem (devido ao politicamente correto) que TODO MUNDO também tem, em algum grau, sangue europeu. O que isso significa? Significa que PODEMOS pegar qualquer tipo de história de Fantasia ou entidade sobrenatural e ambientá-los aqui também. Não precisa ser na Europa.
Escrever e ler Fantasia, por si só, é fuga da realidade. Assim como vampiros e fadas não existem na vida real, o Saci e a Cuca também não. Mas olha que legal: lobisomens, que existem em histórias como Harry Potter e Crepúsculo (aquilo, por conceito, não é lobisomem... mas, enfim, finjamos que é) também é muito comum e presente no folclore brasileiro. Vá a uma cidade do interior de São Paulo, Minas Gerais ou Bahia, converse com as pessoas mais velhas e certamente ouvirá lendas locais sobre tais criaturas.
E não entendo pq Harry Potter pode fazer sucesso na Inglaterra, Crepúsculo e Gelo e Fogo pode fazer sucesso nos EUA, mas uma obra ambientada no Brasil não faria sucesso no Brasil.
Embora eu não seja fã de vampiros, André Vianco taí pra provar que não é bem assim.
E volto a tocar na tecla mais tradicional que temos: Monteiro Lobato.

Tina disse...

Sobre as Fadas, eu acho difícil esclarecer pq leio pouco sobre esse tipo de magia. Mas quem leu afirma que ela chupinhou muito de As Brumas de Avalon (que, aliás, tá na minha fila de leitura também). Então, daí a necessidade de colocar a história na Inglaterra. Ela também cita no meio do livro a cena de um filme que eu amei quando o vi, muitos anos atrás (na época que eu tinha locadora e que a gente ainda frequentava a caixinha do Portal DG, rs), mas cujas memórias das cenas exatas me escapam. Enfim... a autora, novamente NADA sutil, dá a entender que o filme também influenciou suas ideias sobre a história desse livro. O filme se chama "Antes Que Termine o Dia" (If Only). O tipo de filme que a gente ADORAVA adaptar pra colocar Draco Malfoy nesse tipo de situação, hahahah...

Sobre a questão sexual, você não está divagando não.
Pelo contrário, você conseguiu expressar muito melhor o que eu quis dizer!
ISSO que você descreveu, pra mim, é ser uma VERDADEIRA musa INSPIRADORA - a palavra já diz tudo... que inspira, que insinua.
No entanto, como disse uma colega minha, ela transformou uma fada numa puta vampira!
No caso DESTE livro, o escritor se alimenta SIM do sexo, e não da observação da perfeição que causa arrebatamento apenas pela visão em si. Tanto que depois que eles tranzam ele escreve por horas e horas sem parar até desmaiar de cansaço.
O único caso que ela dá a entender que foi uma verdadeira inspiração sem necessidade de luxúria foi o de Mickey que... adivinha? É uma heresia sobre a vida e a morte de Michael Jackson.
Eu amo a cultura e a mitologia grega e ela em grande parte se baseia justamente nisso: a observação do belo, a busca pelo perfeccionismo que leva a humanidade, em todos os campos, ao aperfeiçoamento, a evolução.
Este livro é uma completa DETURPAÇÃO deste conceito!!! Tanto é assim que os próprios personagens que ela já matou tem fantasmas que voltam para se vingar de Sophia.

Como eu disse antes: ela não decide se a personagem é uma mocinha ou uma vilã. Se o livro é dirigido a um público de garotos tarados (sem brincadeira, ela cita RedTube com todas letras... pelamordeDeus, né) ou se para garotas românticas.
O problema não é ter conteúdo sexual. O problema é ter conteúdo chulo, vulgar, entende?

Concordo com ficar temporal demais, mas isso seria até relevante se ela não tivesse tentado MANCHAR a imagem de tanta gente importante. Pra mim isso tornou o livro indigno!

Já eu ODEIO clichês, hahaha... Ah não ser quando eles são MUITO bem desenvolvidos. E isso é raro.

Aliás, isso e o excesso de vulgaridade desnecessária também me levaram a odiar Martin logo de cara.

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